Apresentação

A criação desse blog partiu da idéia de divulgar às novas gerações um pouco do que foi a efervescente década de 80. Num período em que os brasileiros estavam saturados da repressão militar e da falta de perspectivas para o Brasil, os jovens surgem nesse contexto mostrando a sua cara e exigindo mudanças políticas, comportamentais e sociais.
O rock foi o canal condutor que possibilitou a juventude a dizer aquilo que era preciso e o que ela queria.
De tão rico o conteúdo musical e poético dos grupos de rock daquela época, eles fizeram a diferença e entraram para a História.
Aqui você vai encontrar um pouco do que foram esses grupos e um pouco dessa fase da História do Brasil. Vai poder saber o que significou esse momento para muitos, ou então relembrar um poucos dos agitados anos 80.


sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

A cultura antes do AI-5

Arte e participação

O período de vigência do AI-5 é sempre lembrado como um tempo sem perspectivas. Mas antes dele, ainda nos primeiros anos após o golpe de 64, a vida cultural era intensa no Brasil, apesar da censura e da repressão. Os artistas reagiram de formas diferentes ao golpe de 64. Entre os músicos da 'geração Bossa Nova', por exemplo, houve uma divisão. Diversos artistas preferiram não participar diretamente da discussão política. Por outro lado, muitos nomes importantes da música popular, como Nara Leão, Sérgio Ricardo, Geraldo Vandré e Chico Buarque, fizeram oposição explícita ao governo militar. A proposta formal de arte engajada foi adotada pela União Nacional dos Estudantes, que criou os CPCs, Centros Populares de Cultura. O movimento foi além da música e engajou escritores como Ferreira Gullar, dramaturgos como Augusto Boal e Gianfrancesco Guarnieri, e os realizadores do Cinema Novo. Em 1965 a TV Record passou a transmitir o programa "O Fino da Bossa", sob o comando de Elis Regina e Jair Rodrigues. A emissora aproveitava o nome de um espetáculo de sucesso apresentado no Teatro Paramount por estudantes da Faculdade de Direito do Largo São Francisco. A proposta inicial da emissora, de abrir espaço para a chamada "música brasileira autêntica", foi se modificando sob a influência dos estudantes. As letras das músicas eram cada vez mais contundentes e alusivas ao momento político.

Anos 60: Jovem Guarda, Tropicalismo...

A mesma TV Record criou, para ocupar as tardes de domingo, o programa "Jovem Guarda", com Roberto Carlos, numa linha bem diferente. As gírias, as roupas e os cabelos longos davam o tom do programa. Expressavam uma concepção de vida em que o ideal era ter um carrão vermelho e andar à toda velocidade pelas curvas da estrada de Santos.
No fim dos anos 60 surgiu a Tropicália, uma corrente que refletia bem os conflitos políticos e estéticos da época. Os baianos Caetano Veloso e Gilberto Gil pretendiam renovar a MPB, para eles estagnada desde João Gilberto. Os tropicalistas procuravam uma estética que lhes parecesse nova na arte. O movimento agrupou artistas como o dramaturgo José Celso Martinez Correa, o maestro Rogério Duprat, o artista plástico Hélio Oiticica e os poetas concretistas Augusto e Haroldo de Campos.
As idéias de uma nova estética defendidas por Caetano Veloso enfrentavam a resistência de uma parcela de jovens engajados no movimento estudantil. O maior atrito aconteceu durante um festival no teatro TUCA, em São Paulo, em 1968. Revoltado com a desclassificação da música "Questão de Ordem", de Gilberto Gil, Caetano fez um discurso sob vaias e cantou a música "É Proibido Proibir", uma citação do movimento estudantil francês de 1968.
Com a decretação do AI-5, em dezembro de 68, passou a haver um controle mais rígido das atividades culturais. Muitos artistas desagradáveis ao regime acabaram exilados.

A força da televisão

E houve um fator muito importante a exercer influência sobre esse momento cultural: a força da televisão. Nesse período, a pioneira TV Tupi, surgida em 1950, e a Rede Globo, inaugurada em 1965, disputavam a liderança de audiência. A TV brasileira começava a chegar às cidades e vilas mais distantes com boa qualidade de som e imagem, apoiada em um projeto de telecomunicações implementado pelos governos militares.
Um exemplo da força e do controle da televisão sobre o imaginário coletivo foi a cobertura da Copa do Mundo de 1970. Num período de recrudescimento da repressão e da tortura a presos políticos, a TV levava para todo o país e para o exterior a imagem ufanista de uma nação plena de paz e prosperidade
Ao longo das últimas décadas, a principal emissora do país, a TV Globo, tem mantido sua posição de líder absoluta de audiência em todas as regiões brasileiras. A partir das telenovelas, do jornalismo e de uma grade de programação acompanhada diariamente por milhões de pessoas, a emissora veicula sua própria ótica do Brasil e do mundo. Com a força de comunicação que detém, a TV Globo ocupa um espaço cultural de inegável influência sobre a realidade social, econômica e política do país.

Cultura e conscientização

A produção cultural que se observou a partir dos anos 60, no Brasil e no mundo, mostra que nenhum sistema político possui o monopólio do bem e do mal, como as fórmulas da Guerra Fria tentaram passar ao mundo. Por sua própria natureza, a arte e a cultura estão sempre buscando formas de denunciar os conceitos maniqueístas criados em nome das ideologias políticas.

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